quinta-feira, 19 de junho de 2025

Título:

A Ética Protestante e o espírito do capitalismo.

Autor:

Max Weber


Edição de Antônio Flávio Pierucci

Editora Companhia das Letras


Tradução de José Marcos Mariani de Macedo

Revisão técnica, edição de texto, apresentação, glossário, correspondência vocabular e índice remissivo de Antônio Flávio Pierucci


Fichamento de Jacques Jacomini


Parte 01 

O Problema

1. Confissão religiosa e estratificação social

    O autor da obra inicia com dados estatísticos levantados na sua pesquisa, quando diz:

    "Basta uma vista de olhos pelas estatísticas ocupacionais de um país pluriconfessional para constatar a notável freqüência N1 de um fenômeno por diversas vezes vivamente discutido na imprensa e na literatura católicas N2 bem como nos congressos católicos da Alemanha: o caráter predominantemente protestante dos proprietários do capital e empresários, assim como das camadas superiores da mão-de-obra qualificada, notadamente do pessoal de mais alta qualificação técnica ou comercial das empresas modernas".

Nota de pé de página número 3

    Sem citar dados quantitativos específicos, Weber que demonstrou ao longo da sua existência grande interesse pela economia, história e direito, deixa claro, desde o início da obra a relação entre uma profissão de fé (protestante) e um grupo social específico (os proprietários do capital e empresários).

    Segue, no mesmo tom, dando explicações acessórias ao supra citado:

    "Está claro que a participação dos protestantes na propriedade do capital N4 na direção e nos postos de trabalho mais elevados das grandes empresas modernas industriais e comerciais, N5 é relativamente mais forte, ou seja, superior à sua porcentagem na população total, e isso se deve em parte a razões históricas N6 que remontam a um passado distante em que a pertença a uma confissão religiosa não aparece como causa de fenômenos econômicos, mas antes, até certo ponto, como conseqüência deles".

    Falamos que Weber não se dedica apenas ao conhecimento sociológico, mas também possui interesse histórico e econômico, isso aparece no trecho que segue:

    "Mas aí se levanta a questão histórica: qual a razão dessa predisposição particularmente forte das regiões economicamente mais desenvolvidas para uma revolução na Igreja? E aqui a resposta não é assim tão simples como à primeira vista se poderia crer. Com certeza, a emancipação ante o tradicionalismo econômico aparece como um momento excepcionalmente propício à inclinação a duvidar até mesmo da tradição religiosa e a se rebelar contra as autoridades tradicionais em geral. Mas cabe atentar aqui para o que hoje muitas vezes se esquece: a Reforma significou não tanto a eliminação da dominação eclesiática sobre a vida de modo geral, quanto a substituição de sua forma vigente por unia outra. E substituição de uma dominação extremamente cômoda, que na época mal se fazia sentir na prática, quase só formal muitas vezes, por uma regulamentação levada a sério e infinitamente incômoda da conduta de vida como um todo, que penetrava todas as esferas da vida doméstica e pública até os limites do concebível".

    Na sequência surge um tema recorrente, a cultura cristã católica na relação com a cultura cristã não católica e os seus desdobramentos históricos e econômicos na Europa:

    "A dominação da Igreja católica — 'que pune os hereges, mas é indulgente com os pecadores', no passado mais ainda do que hoje — é suportada no presente até mesmo por povos de fisionomia econômica plenamente moderna [e assim também a agüentaram as regiões mais ricas e economicamente mais desenvolvidas que a terra conhecia na virada do século xv]. A dominação do calvinismo, tal como vigorou no século XVI em Genebra e na Escócia, na virada do século XVI para o século XVII em boa parte dos Países Baixos, no século XVII na Nova Inglaterra e por um tempo na própria Inglaterra, seria para nós a forma simplesmente mais insuportável que poderia haver de controle eclesiástico do indivíduo. [Foi exatamente assim, aliás, que a sentiram amplas camadas do velho patriciado da época, em Genebra tanto quanto na Holanda e na Inglaterra.] Não um excesso, mas uma insuficiência de dominação eclesiástico-religiosa da vida era justamente o que aqueles reformadores, que surgiram nos países economicamente mais desenvolvidos, acharam de criticar".

    


2. O "espírito" do Capitalismo

    Esta parte do texto é uma das principais, pois provoca, via de regra, alguns equívocos nos leitores menos atentos e preparados para a leitura de Weber. No entanto, não há "mistério" algum, basta ficar atento e buscar entender o enfoque que o autor está privilegiando: Cultural.

    Desde o início do capítulo, o autor já esclarece:

    "No título deste estudo emprega-se o conceito de “espírito do capitalismo”, que soa um pouco pretensioso. O que se deve entender por isso? [Na tentativa de lhe dar uma “definição” ou algo assim, logo se apresentam certas dificuldades que pertencem à natureza do próprio objetivo da pesquisa.] Se é que é possível encontrar um objeto que dê algum sentido ao emprego dessa designação, ele só pode ser uma “individualidade histórica”, isto é, um complexo de conexões que se dão na realidade histórica e que nós encadeamos conceitualmente em um todo, do ponto de vista de sua significação cultural. Tal conceito histórico, entretanto, na medida em que por seu conteúdo está relacionado a um fenômeno significativo em sua peculiaridade individual, não pode ser definido (vale dizer: “delimitado”) segundo o esquema genus proximum, differentia specifica, devendo antes ser gradualmente composto a partir de cada um de seus elementos, extraídos da realidade histórica. Daí por que a apreensão conceitual definitiva não pode se dar no começo da pesquisa, mas sim no final: noutras palavras, somente no decorrer da discussão se vai descobrir, e este será seu principal resultado, como formular da melhor maneira — isto é, da maneira mais adequada aos pontos de vista que nos interessam — o que entendemos aqui por “espírito” do capitalismo. Por outro lado, esses pontos de vista (dos quais tornaremos a falar) não são os únicos possíveis para analisar os fenômenos históricos que estamos considerando. Para esse, como para todo fenômeno histórico, a consideração de outros pontos de vista produziria como “essenciais” outros traços característicos: segue-se daí que não se pode ou não se deve necessariamente entender por “espírito” do capitalismo somente aquilo que nós apontaremos nele como essencial para nossa concepção. Isso faz parte da natureza mesma da “formação de conceitos históricos”, a saber: tendo em vista seus objetivos metodológicos, não tentar enfiar a realidade em conceitos genéricos abstratos, mas antes procurar articulá-la em conexões [genéticas] concretas, sempre e inevitavelmente de colorido especificamente individual".


3. O Conceito de vocação em Lutero



    O Objeto da pesquisa

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