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1a. Mostra da Literatura Popular de Viamão
A obra foi editada pela Prefeitura Municipal de Viamão em 1987, administração de TAPIR ROCHA, divulgando o trabalho de diversos escritores que participaram da Mostra de Literatura Popular de Viamão. Com ilustrações de JOÃO PAULINO JACQUES PIRAINE, o livro traz um texto introdutório do próprio Tapir Rocha, onde este afirma:
"A literatura não é o sorriso da sociedade como a queria Afrânio Peixoto, mas o escoadouro por onde rolam os anseios e as esperanças de uma nacionalidade. Síntese da alma de um povo, sua expressão, sua seiva, sua energia vital, a literatura popular ou erudita, tende a ser sempre uma espécie de pináculo de onde seus gênios criadores gritam suas rebeldias."
O texto de TAPIR ROCHA mostra uma intima relação com as letras, bem como demonstra a sua disposição de trabalhar na defesa de políticas públicas na área da cultura. A sua administração foi marcada por intervenções bem sucedidas nesta área. Até hoje o viamonense lembra com carinho, respeito e admiração de eventos que ficaram como marca registrada da administração do PDT na cidade como, por exemplo, o Festival de Musica viamonense (FEMUVI), o "Arraial da Alegria", a Mostra de Literatura Popular entre outros.
Veja abaixo o texto integral:
APRESENTAÇAO
A literatura não é o sorriso da sociedade como a queria Afrânio Peixoto, mas o escoadouro por onde rolam os anseios e as esperanças de uma nacionalidade. Síntese da alma de um povo, sua expressão, sua seiva, sua energia vital, a literatura popular ou erudita, tende a ser sempre uma espécie de pináculo de onde seus gênios criadores gritam suas rebeldias.
Assim foi no recente período ditatorial, tempo negro, de opressão e aviltamento, de espinhas dorsais se dobrando ao arbítrio, tempo de sombras esquivas e infames, que se chocaram, antes de mais nada, com as luzes do que temos mais alto a nível de cultura e de pensamento. Aí se agigantaram os valores mais expressivos em nossa vida cultural, resistindo, espancando trevas. Ferreira Gullar, Thiago de Melo e Antonio Callado, para citar só três de nossos melhores literatos vieram para a trincheira da resistência democrática patenteando seu profundo compromisso com a vida e com os valores fundamentais da pessoa humana.
Esses intelectuais, com seu gesto, mostraram com a clareza meridiana de um dia de sol que a literatura, acima de tudo, tem um profundo vínculo com os anseios libertários de nosso povo.
Que escrever é ser. Que lastreando o ato criativo há todo um conjunto de valores - transcedentais porque humanos - que mexem, que ferem a nossa sensibilidade nestes tempos de mornidão moral, de hipocrisia, de negação e afrouxamento.
Penso estas coisas quando leio, encantado, estes textos que vêm do seio densamente humano do povo que me cabe a honra de dirigir como Prefeito. É o produto da 1ª. Mostra de Literatura Popular de Viamão, nossa terra. São as inquietações de grande parte de nossa intelectualidade, nossos poetas, nossos cronistas, nossos ficcionistas. Poesia simples, espontânea como a água que brota da "Bica da Paciência" do chão lendário de nossa terra natal. Poesia e crônica de nossa gente, materialização do imenso potencial sensitivo da gente viamonense. Busca de caminhos, expressões da alma de nossas ruas, intenção que se torna ainda mais bela por vir de todos os recantos de Viamão.
Ao saudar esta coletânea - seus organizadores e seus autores - tenho certeza de levantar o valor à altura do mérito. No ventre destes textos, ressalvo três aspectos: sua beleza, sua inserção no espírito do tempo e seu sentido de registro emotivo e sentimental da criatividade de nosso povo, um povo grande e extraordinário que se irmana com nossa Administração na tentativa da construção de um novo tempo de mais paz, mais flor e mais amor.
T API R ROCHA PREFEITO MUNICIPAL
Ilustrações de JOÃO PAULINO JACQUES PIRAINE
Nossa Senhora da Conceição de Viamão, uma comunidade em busca de suas raízes
A obra foi editada pela Prefeitura Municipal de Viamão em 1989, administração de Jorge Chiden. Com um texto bastante sintético, mas grande rigor historiográfico, o livro está dividido em duas partes. Na primeira parte, Moacir Flores (historiador com um vasto trabalho de pesquisa sobre o Rio Grande do Sul) destaca os aspectos históricos da Igreja Matriz de Viamão. Na segunda parte, o autor trabalha sobre a História de Viamão (como um todo). A história da velha capital ainda abriga equívocos como, por exemplo, no que concerne a chegada dos casais de número, oriundos dos Açores. Neste ponto, Moacir Flores é direto ao afirmar:
"Em 1752 chegaram os casais açorianos destinados a povoarem as Missões, conforme o tratado de Madrid de 1750, que previa a transmigração dos guaranis. Mas como o tratado não foi executado, as famílias açoritas se estabeleceram no Porto dos Casais, em Santo Amaro, Rio Pardo e Taquari. Só em 1772 que os açoritas receberam datas em Santana das Lombas e na nova freguesia de São Francisco dos Casais."
Infelizmente, ainda hoje, alguns preferem informar equivocadamente que os açorianos aportaram em Itapuã.
Veja abaixo mais um trecho do livro que merece destaque:
Os espanhóis, em 1763, invadiram a vila de Rio Grande na tentativa de expulsar os portugueses até da ilha de Santa Catarina. As autoridades da Comandância se refugiaram em Viamão, que passou a ser a sede do governo da Comandância de São Pedro do Rio Grande, com o território reduzido aos Campos de Via mão e à margem esquerda do Rio Jacuí, desde o Rio Pardo até o Guaíba.
A Câmara Municipal, vinda de Rio Grande, funcionou em Viamão de 18/6/1766 a 29/8/1773, quando foi mudada para Porto Alegre, a nova capital da Comandância do Rio Grande. Durante o domínio espanhol (1763/1776) Viamão era a única vila do domínio português no sul, que reuniu autoridades civis e eclesiásticas até 1773. Tal situação requeria um novo templo, tendo o Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria projetado imponente igreja matriz em estilo barroco, o Brig. Sá e Faria também projetou a igreja de Santa Cruz dos Militares, no Rio de Janeiro, a matriz de Montevidéu e a de Buenos Aires, além de fortificações na ilha de Santa Catarina.
Era considerado um dos maiores "engenheiro-arquiteto" de sua época, tanto em Portugal como na Espanha. A pedra fundamental da igreja de Nossa Senhora da Conceição de Viamão é de 21/9/1767, sua construção deve-se ao mestre Francisco da Costa Senne.
Com toda a pompa rezou-se a primeira missa em 6/4/1770, sendo concluída a construção em 1773.
Examinando-se o mapa do continente do Rio Grande, elaborado por Antônio Ignácio Rodrigues de Córdova em 1780, nota-se a divisão em quatro províncias. Viamão, Rio Pardo, Vacaria e Rio Grande, correspondentes às áreas conquistadas e povoadas pelos luso-brasileiros, que já necessitavam de uma divisão municipal.
A chamada província de Viamão abrangia o litoral norte e a Depressão do Jacuí, até a confluência com o Rio Taquari, contando apenas com a Vila de Porto Alegre, fundada em 26/03/1772 e com as Freguesias de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos, Santo Antonio da Patrulha e Conceição do Arroio.
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RAÍZES DE VIAMÃO
Vejam que interessante: Se, em 1989, o viamonense estava em busca das suas "raízes" (Veja o título da obra anterior: Nossa Senhora da Conceição de Viamão, uma comunidade em busca de suas raízes de Moacir Flores), agora, parece ter encontrado. Pois a Prefeitura Municipal de Viamão lançou um livro denominado: "Raízes de Viamão".
Acompanhe a resenha completa do livro que será disponibilizada aqui dentro em breve.
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OU ISTO
OU AQUILO
Cecília Meireles
Vejam: tradicionalmente não elaboramos "Resenhas" de livros de literatura. Mas, dado o contexto vivído e a envergadura da obra, abrimos uma excessão a regra.

Um dos mais belos clássicos da poesia brasileira, 'Ou isto ou aquilo' aborda os sonhos e as fantasias do mundo infantil - a casa da avó, os jogos e os brinquedos, os animais e as flores, tudo ganha vida nos poemas de Cecília Meireles.
Ou isto ou aquilo
Cecília Meireles
A obra em tela é daquelas que merecem destaque por diversos motivos. Destacaria as ilustrações (De Tahis Linhares) que são belíssimas e de um bom gosto impar e alguns poemas que mais me tocaram como, por exemplo, Roda na Rua.
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Ou isto ou aquilo, Editora Nova Fronteira, 1990 - Rio de Janeiro, Brasil
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Lançado em 1982 pela historiadora Sandra Jatahy Pesavento. Pesavento foi graduada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1969), com mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1978) e doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo (1987) e mais três pós-doutoramentos em Paris. Na sua atividade profissional foi professora convidada de várias instituições estrangeiras e professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul no Departamento de História e no Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR). Atuou na área de História, com ênfase em História do Brasil, trabalhando com os seguintes temas: história cultural, história cultural urbana, imaginário e representações, história e literatura, patrimônio e memória.
O livro “História do Rio Grande do Sul” esta dividido em 4 partes:
1- O RIO GRANDE DE SÃO PEDRO;
(Uma tardia integração; A expansão rumo ao Sul: o Prata; A expansão rumo ao Sul: os Sete Povos das Missões; A expansão rumo ao Sul: a economia subsidiária; A apropriação militar da terra)
2- A PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO
(A Revolução Farroupilha; A pecuária gaúcha: apogeu e crise; A economia colonial imigrante; A política rio-grandense no segundo Império)
3- A REPÚBLICA POSITIVISTA
(A implantação do regime; A crise do "celeiro do país": agropecuária e indústria; A consolidação da República; A crise dos anos vinte e a Revolução de Trinta.)
4- O RIO GRANDE NO PÓS - 30
(A Revolução de Trinta; A República Nova (1930 - 1937); O Estado Novo (1937 - 1945); O Rio Grande no período populista).
No plano geral, podemos dizer que se trata de uma obra bastante importante para a sua época, tendo sido utilizada por diversos pesquisadores que estudaram a história de Viamão. No entanto, salta aos olhos os aspectos da cultura política e econômica em detrimento da cultura social. Os aspectos antropológicos, por exemplo, são praticamente ausentes. Na página 12 a autora fala rapidamente da cultura não branca:
“Os Sete Povos tornaram-se importantes centros econômicos, onde, além de erva-mate e criação de gado, realizavam-se trabalhos de fiação, tecelagem, metalurgia, ofícios vários e trabalhos artísticos, com destaque na arquitetura e escultura. Usando de habilidade, num processo de adaptação da cultura indígena anterior ao aldeamento, os missionários nomearam seus caciques como chefes de setores de serviços administrativos. Aos poucos, com o florescimento dos Sete Povos e o desenvolvimento dos quadros administrativos necessários à organização de cada redução, os novos cargos, agora eletivos, foram substituindo as antigas lideranças.”
Na página 16 a autora fala rapidamente da cultura açoriana e assim procede até o final do livro dando destaque sempre para a economia e a política, em detrimento de todo o resto, fato que empobrece a obra resenhada.
Na página 21 a autora cita rapidamente Sepé Tiaraju, expoente da cultura não branca, e não desenvolve o texto sobre este importante personagem da história gaúcha, bem como sobre as suas realizações e características humanas.
Na página 22 a autora fala no Porto de Viamão, assunto que ainda hoje suscita controvérsias:
“Paralelamente à expansão das sesmarias e dos fortes militares (Rio Pardo, Santo Amaro), a Coroa portuguesa promoveu a vinda para o Rio Grande de casais açorianos, com o objetivo de povoar a zona das missões, que por direito caberia a Portugal, garantindo assim a posse da terra. Chegando em grandes levas a partir de 1752 (ponto alto da imigração) os "casais d'EI Rey" foram distribuídos pelo Porto de Viamão ou do Dornelles (Porto Alegre) e pela beira do Jacuí (Rio Pardo, Santo Amaro, Triunfo, Taquari), não recebendo terras de imediato, ante a possibilidade de serem transferidos para as Missões.”
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Viamão
Tradição e Identidade
O Livro “Viamão - Tradição e Identidade” foi lançado em 1988 pela Editora Nova Dimensão com o apoio da Camara de Vereadores de Viamão (Administração do Vereador Amilton Machado). Com um contexto de comemoração pelo Sesquicentenário da Cidade (outubro de 1988), a obra contou com fotografia de Haroldo Franco e diagramação de Joselene Raymundo. O préfacio ficou a cargo de Dante de Laytano. Os autores são: Julio Quevedo, Paula Simon Ribeiro e Rogério Sanchotene.
O livro foi dividido em duas partes. Na primeira parte foi trabalhado a historiografia e na segunda parte o folclore da cidade.
Veja abaixo a introdução da primeira parte de “Viamão - Tradição e Identidade”
“INTRODUÇÃO
A terra e o homem são aspectos inseparáveis da vida humana. A terra natal exerce um significado mítico e idealizado para o patrício dela, que fica lisonjeado ao contar fatos peculiares do lugar onde nasceu. Por isso, todo o indivíduo é curioso e possui a sensibilidade de compreender os fatos antepassados da sua família, da comunidade, enfim da sociedade em que vive. Partindo do individual para o geral, concomitante a esta descoberta, ele vai adquirindo domínio consciente sobre si e a terra, Identificando-se nos fatos peculiares e singulares da região. Identidade esta, atrelada a padrões de moral, hábitos e costumes, relacionada com o contexto de uma região, de um povo e de uma nação.
O fio condutor entre a terra e a identidade, na qual repousa a cultura do homem, é a tradição. Esta, oral ou escrita, embasará e respaldará as atitudes e valores da humanidade.
Nesta premissa é que se propõe abordar a evolução de Viamão, enquanto cultura, política, economia. A constituição e a construção da sociedade viamonense serão resgatadas nesta perspectiva histórica, aqui traçada. Desta forma, pretende-se contribuir no processo de elaboração da Identidade sócio-cultural dos viamonenses.
Todavia, há uma preocupação fundamental de localizar a evolução da sociedade viamonense nos acontecimentos históricos sul-rio-grandenses e brasileiros.
Pois a Micro-história tem validade na medida em que se enquadra dentro do todo histórico, Isto é, faz correlações com a História maior, seja regional, nacional ou Internacional.
Um trabalho que se dedique à análise de um fato local sem dar abertura para o todo histórico não contribui para o avanço das ciências sociais, das pesquisas em busca de um entendimento do novo passado, ficando perdida num vazio regional e desconhecido dos pesquisadores e historiadores de outras regiões e nações. Na verdade tudo é história, todo o lugar contribui para o avanço, sem radicalismo.
Interessa, pois, nesta abordagem, detectar o processo de emancipação política-administrativa de Viamão, no decorrer dos séculos XVIII e XIX, até 1880, quando a atual cidade foi reconhecida como VILA, aspecto de suma Importância, no contexto do século XIX e de grande valia para a reflexão do povo viamonense na atualidade, à medida que são problemas Inerentes à formação sócio-cultural de todo o povo que se debruça sobre o passado tentando encontrar respostas para o presente e lançando perspectivas para o futuro.
Viamão ocupa uma parcela relevante na História do Ri o Grande do Sul, pois nesta região localizaram-se os primeiros conquistadores luso-brasileiros. Nela Instalaram-se as primeiras sesmarias, depois estâncias, que consagrariam o domínio luso no local, servindo como esteio ao expansionismo português sobre o Brasil meridional.
A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Viamão, tão conhecida por nossa historiografia, instituclonalizada no decorrer do século XIX, adquiriria status de Vila em 1880.”
Faço questão de trazer esta grande transcrição para destacar que o texto elaborou “construções estranhas” como, por exemplo: “Na verdade tudo é história, todo o lugar contribui para o avanço, sem radicalismo”(Frase da introdução). A conclusão da primeira parte também apresenta este tipo de elaboração que merecem destaque. Inicialmente, transcrevo-a na integra, para comentar logo em seguida:
“CONCLUSÃO
Parece-nos que a partir do resgaste dos fatos peculiares da formação e evolução da sociedade viamonense, restrito neste estudo aos séculos XVIII e XIX, foi possível desvendar aspectos Inerentes à Identidade Cultural da gente de Viamão.
Esta, a partir de agora, tem condições de conscientizar-se do seu passado histórico.
Esta Identidade repousa sobre a tradicionalidade, oral e escrita, contida na psiquê do povo. Neste sentido, a Igreja, elemento essencial do processo europeizador e aportuguesador, emana elementos primordiais que sintetizam esta tradicionalidade. Em torno desta instituição, a cultura materializa-se, propulsionada pela aglomeração populacional que engendrou o arraial. Esta afluência é responsável pela vivência de hábitos e costumes que remontam uma longa tradição européia ocidental cristã e, acima de tudo, católica.
O estudo da história de Viamão é Importante na medida em que convergem para esta região elementos essenciais, concernentes à conquista européia do Brasil Meridional. Inserir Viamão nesta premissa, significa dizer que a região também serviu de baliza, junto com o Presídio "Jesus, Maria e José" de Rio Grande, para o expansionismo da fronteira étnico-cultural luso-brasileira. Se o Presídio representou a militarização, a Espada do processo conquistador, equipara-se à Igreja Nossa Senhora da Conceição de Viamão, a qual materializou o Cristianismo, a Cruz, de estirpe guerreira, que também teve função decisiva.
A Cruz e a Espada concentram-se em Viamão, e dali expandem a fronteira pelo Oeste sul-rio-grandense, atingindo audaciosamente por volta de 1750 o rio Pardo, nas margens do rio Jacuí.
Em Viamão emergiram as primeiras estâncias, e seus senhores estancieiros, especializados na criação do gado para atender o sudeste brasileiro, o que representou o esteio da colonização luso-brasileira nas paragens sulinas.
As estâncias, quer viamonenses ou de outras áreas, são um Fato de notória singularidade, na medida que representam e viabilizam a inserção do Rio Grande de São Pedro ao mundo português, através da privatização da propriedade.
Paulatinamente, engendrava-se um pequeno povoado em torno da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Viamão, estigma da cultura lusitana. Isto possibilitava que a localidade se tornasse uma das mais conhecidas do pequeno Continente de Rio Grande, por seu estratégico valor militar, viabilizador da política lusitana na região. Por isso, expressivamente, optou-se pela localidade, em 1766, como sustentáculo do expansionismo luso-brasileiro, concretizando-a como capital da Capitania do Rio Grande de São Pedro, num momento de desafio à hegemonia lusa na região, a partir da invasão castelhana à vila de Rio Grande. Esta, punha em perigo o projeto expansionista luso-brasileiro, que garantiu sua continuidade pelas manobras militares em Rio Grande e São José do Norte, enquanto a política administrativa abrigava-se no arraial de Viamão.
Viamão, plenamente afinada com a cultura portuguesa, também contribuiu na formação do municipalismo brasileiro, tendo o seu primeiro ensaio municipal quando capital da pequena Capitania Rio-Grandense, que estendia-se apenas pelo litoral, envolvida nas ações beligerantes ao longo do percurso do rio Jacuí.
Após o término deste ensaio, os viamonenses ficaram relegados ao deleite de terem sido capital do Rio Grande.
Aliás a tradição oral guarda este fato com muita relíquia.
Novamente, à época farroupilha, um novo ensaio de vida administrativa Independente, pois a 6 de outubro de 1838 é criada a vila Setembrina, com sede em Viamão. A localidade desempenha um papel primordial, aquartelando as tropas farroupilhas-viamonenses.
Todavia, por problemas internos e externos, a Republica Rio-Grandense recrudesce a partir de 1840, confinando-se pela região da campanha rio-grandense, deixando Viamão de lado.
Os viamonenses assistiam, em 1841, os legalistas retomarem-na.
Após alguns decênios de um visível descenso sócio-economico (1845-1875), a economia viamonense revitalizava-se e o crescimento demográfico fazia-se sentir com o cessar das emigrações e um número de natalidade superior às mortalidades. Viamão estava apta a se tornar vila, a tomar parte da constelação político-administrativa provincial sul-rio-grandense. não mais como freguesia, mas sim com vida administrativa própria. Desta forma, em junho de 1880, através da Lei 1247, a elite viamonense via seus anseios consagrados, pois obtinham vida político-administrativa Independente, através da gerência dos seus próprios recursos financeiros. O municipalismo em Viamão, a partir de então, entraria na sua fase mais expressiva.
Concomitante à evolução econômica e política de Viamão, detectamos, social e culturalmente, a composição étnica da região. Na composição étnica, o negro e o branco deixaram marcas Indeléveis na cultura local, estando presentes constantemente nos fatos supracitados no discorrer deste trabalho. Este legado expressa-se através da tradição, tanto oral como escrita, mas nos parece que a primeira contém mais exemplos. Por Isso, não foi ressaltada nesta primeira parte, na medida em que a segunda parte deste livro se atém à pesquisa folclórica de Viamão.
Por fim, os elementos constitutivos da Identidade Cultural viamonense foram aludidos e a pesquisa não se encerra aqui, mas deve ter continuidade. Basta agora que o povo se conscientize e Identifique-se com tais elementos, refletindo sobre fatos e hiatos singulares de Viamão.”
Vejam, lá no início, o autor afirma: “Esta, a partir de agora, tem condições de conscientizar-se do seu passado histórico”. A expressão “conscientizar” aponta para o que afirmei no início desta: Construções estranhas. Muito usada entre a militância política, conscientizar é uma palavra que eu não usaria neste tipo de construção textual, pois não representa o que habitualmente buscamos ao construir um trabalho como este. Mas é no final da conclusão que aparece uma afirmativa digna de nota: “Na composição étnica, o negro e o branco deixaram marcas Indeléveis na cultura local, estando presentes constantemente nos fatos supracitados no discorrer deste trabalho”. Em primeiro lugar, os autores não trabalharam nem uma linha sobre os povos indigenas em todo o livro (ausência sentida por este que resenha). Em segundo lugar, apanhar dois grandes grupos denominados de “brancos” e “negros”, colocando ali todos os indivíduos do universo estudado, sem nenhuma outra discriminação (e descrição) pormenorizada é simplismo ao cubo, segundo a minha opinião.
II PARTE
A segunda parte do livro foi dedicada ao aspectos folclóricos da cidade, como havia afirmado no início desta. A exemplo da primeira parte, aqui também surgem expressões curiosas como uma tal de “Cultura Expontânea”. Veja abaixo a integra da introdução:
“VIAMÃO, pequena cidade acolhedora e simpática, com casas de dois séculos ao lado de modernas construções, ruas estreitas "de antigamente", cruzando com outras, calçadas de paralelepípedos, semáforos nas esquinas.
Este trabalho pretende mostrar aspectos da cultura espontânea desta agradável comunidade.
Objetiva descrever de maneira clara e concisa, em Iinguagem acessível, a expressão cultural deste povo, por esta razão conservando multas vezes o próprio falar do Informante, com suas frases e modos característicos.
Seus moradores mais antigos, conservam hábitos herdados de seus avós, que por sua vez os herdaram de seus antepassados. Entre estes hábitos está o da hospitalidade. Recebem o visitante que Ihes vêm fazer perguntas com afetividade e delicadeza, respondendo-as detalhadamente, contando de seu dia-a-dia, de suas vivências atuais e buscando na memória retalhos esquecidos que ajudam a compor a história e o folclore da cidade.
Quanta coisa existe na lembrança dos mais velhos! Quantos fatos quase esquecidos foram registrados e quanta riqueza cultural nesta comunidade! A um primeiro momento dizem que a cidade nada tem de Importante para mostrar. Explicamos que não queremos "grandes" Informações, o que nos Interessa são as pequenas coisas do cotidiano. O somatório destas pequenas coisas constitui a cultura espontânea de uma cidade.
E aos poucos vão surgindo Informações, causos, histórias de bruxas e lobisomens, mesa de Inocentes. Estes fatos são narrados em uma linguagem simples entremeada de expressões e sotaques quinhentistas. Algumas palavras de português arcaico nos remetem ao tempo da fundação da vila que foi a 3ª. Capital da província.
Consideramos este trabalho de grande importância para o município. O registro, a documentação e divulgação dos fatos da cultura popular representa o resgate da expressão cultural da comunidade, sua conseqüente valorização e afirmação de sua identidade como indivíduos e como grupo social.”
Nesta segunda parte, fica muito claro a extensão do trabalho de campo que foi feito para a construção da obra. Isto enriquece o texto final, pois são elementos novos e inéditos que estão sendo oferecidos ao público leitor. Contudo, a interpretação e análise deste material poderiam ser ampliadas. Por exemplo, foram colhidos muitos elementos da área da antropologia da religião que não receberam o processamento técnico devido.
Veja abaixo a integra da conclusão da segunda parte da obra:
“Ao encerrarmos este trabalho queremos registrar nossas impressões, e elucidar qualquer dúvida que possa ter ficado.
Para melhor desenvolver uma consciência analítica e parcial dos fatos, procuramos vivenciar durante mais de um ano junto à comunidade as motivações e situações de vida que desencadeiam as ocorrências folclóricas.
A duração do projeto, 14 meses. tornou-se Indispensável como tempo necessário para compreender a vida cotidiana do grupo e os fenômenos a ela relacionados.
Dentro de nossas limitações procuramos desenvolver um trabalho de observação, documentação, análise, Interpretação e relato dos dados obtidos.
Temos a certeza de não ter esgotado o assunto, muito pelo contrário: há muito o que pesquisar na comunidade, muito a ser feito. O folclore é vivo e dinâmico, e como tal em constantes mutações que exigem do pesquisador uma permanente atenção .
A comunidade pesquisada, conserva suas características interioranas. No decorrer do trabalho foram destacando-se as formas da religiosidade popular, que manifestam-se em orações específicas, promessas, benzeduras, simpatias e outras crenças.
O legado mágico dos mitos permanece vivo, constatado em Inúmeros casos de bruxas e lobisomens relatados. Verificamos acentuado sincretismo do catolicismo com as religiões de origem africana, especialmente com a Umbanda;
documentamos usos e costumes, como Coberta d'Alma e Mesa de Inocentes.
Especial destaque na cidade é dado à festa do Divino Espírito Santo, cuja procissão com belas e coloridas bandeiras é acompanhada por grande número de fiéis.
Cantadores de Ternos de Reis alegram casas e bairros, levando o espírito natalino ao interior do município. Chama a atenção a quantidade de grupos existentes na comunidade. Esta manifestação, por numerosa e representativa da cultura local merece estudo individualizado, pois o assunto é rico e inesgotável e o fato não é suficientemente valorizado pela própria comunidade.
No que diz respeito às melodias, a proposta de colocá-Ias em partitura deve-se ao desejo de vê-Ias perpetuando-se no tempo, sem que percam as suas características, principalmente as dos Ternos, em sua maioria feitas de improviso pelo Mestre.
Justifica-se também pelo fato de pessoas de outras localidades terem oportunidade de tomar conhecimento das canções aqui entoadas.
Várias famílias sobrevivem do artesanato de subsistência, como a produção de farinha de mandioca em atafonas rudimentares, produção de cachaça em alambiques caseiros e outros produtos como queijos, lingüiças, morcilhas, doces, licores etc.
De grande importância econômica para a região é o produto artesanal obtido de fibras vegetais (cipó, taquara e outros), bem como os trançados em couro de excelente qualidade, com os quais os trançadores da região atendem as solicitações dos CTGs.
Os moradores das zonas ribeirinhas desenvolvem artesanato peculiar voltado para as suas necessidades profissionais, tecendo suas redes de pesca com grande habilidade.
Os textos aqui publicados não mantêm um padrão. Alguns são bastante técnicos, outros mais historiados; alguns são objetivos, outros subjetivos. Cada texto reflete o espírito da comunidade pesquisada no dia e hora do recolhimento do fato; como vivenciamos estes fatos em épocas diferentes ao longo de quatorze meses, optamos pela não padronização em respeito a dinâmica dos mesmos.
A descrição da metodologia empregada, inclusão de planilhas fotográficas e de atividades, instrumentos de entrevista, itinerários e outros tem como finalidade destacar as diversas etapas do trabalho de pesquisa de campo e as técnicas empregadas.
O trabalho como um todo resultou muito gratificante pelo que nos acrescentou como pessoas e como técnicos. Tivemos oportunidade de conhecer nossos informantes que se tornaram nossos amigos. Fomos recebidos em suas casas e compartilhamos de suas mesas em agradável e salutar convívio.
Destes amigos ficaram as melhores recordações e a certeza de que nosso respeito e amizades são retribuídos.
Aprendemos muitas coisas, pois em se tratando de folclore, ninguém sabe tudo. Folclore é troca, sempre temos algo a aprender, a dar e a receber”.
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O Livro “A Saga de um Povo Tropeiro” foi lançado pela Editora Metrópole. A obra contou com criação de capa e editoração eletrônica de Oswaldo Idelefonso da Silva Meyer. O autor é Victor Américo Cabral. Demais informações sobre a obra estão implicitas, pois a mesma não traz a tradicional ficha catalográfica.
O livro foi dividido em 12 capítulos, a saber:
1. IBIA-MOMJACINDIPAPAHABI
2. CONTINENTE DE VIAMARA
3. SANTO ANTONIO DOS ANJOS DA LAGUNA
4. UMA VIAGEM DE OBSERVAÇÃO
5. JORNADA A BOTUCARAÍ
6. UMA REUNIÃO NO SENADO DA CÂMARA
7. FIRMANDO UMA REAL OBRIGAÇÃO
8. O CAMINHO DA TROPA
9. FINALMENTE DESCOBRINDO VIAMÃO
10. TROPEIROS E SUAS INVERNADAS
11. CORPO DE AVENTUREIROS
12. ANIVERSÁRIO DE VIAMÃO
A Apresentação da obra é feita pelo próprio autor, Victor Américo Cabral. A seguir, acompanhe na integra otexto que abre a obra em tela:
“APRESENTAÇÃO
Das pegadas na areia de Domingos da Filgueira à condição de Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Viamão uma história de tropelias, invernadas e tenacidade.
Estes imensos tapetes verdes, sem dono, sem soberano eram aproveitados pelos rebanhos que subiam lentamente na cadência lerda de seus passos, mas persistentemente enxotados pelos tropeiros, às centenas, desde as pampas cisplatinas. Na época, em que não tinha sido firmado, ainda, o direito de soberania destas paragens...
Assim, apenas os currais deveriam assinalar o local de cada uma das invernadas, na primeira infância do Continente de Viamara, dando foros de legitimidade a uma ocupação temporária e precária.
Surge na documentação histórica referências como: tapera do Magalhães, rincão do Cristóvão Pereira, sítio do Paulista, estância do Souza e Faria, curral do Frei Sebastião e outras designações indicando os primitivos habitantes destas terras.
Viriam ocupar as regiões do Viamão onde fundariam a base de suas propriedades e o futuro de seus descendentes. Pois aqui tudo era promissor.
O vento leva e traz a chuva, quer seja de bonança ou temporal. O vento é presente sempre desde os primórdios. Não tem princípio, nem fim... Testemunha ocular, a tudo assiste, sejam os fatos do passado longínquo, como o presente.
Vezes há em que acaricia o rosto do meu neto ou move os cabelos de minha netinha, em forma de brisa suave. Outras ocasiões, furioso derruba árvores centenárias, frondosas, deixando um trágico rastro de destruição por onde passa.
Não vejo o vento, sinto-o. Com que intensidade! Pois é ele que me traz de volta do passado, intensamente, as idéias dos primeiros povoadores. Com o vigor e a força de quem presenciou tais façanhas.
Por ocasião dos duzentos e cinqüenta anos de Viamão, lembrei-me de escrever aos netos estas estórias de tropelias e invernadas. Com base no Continente de Viamara fiz um pequeno resumo, em forma de diálogo com meus netos, vou passando a limpo informações e fatos que recolhi ao longo do tempo. É o que vamos ler a seguir.
Victor Américo Cabral”
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Viamão - Obra de Adonis dos Santos
Este é um dos livros mais importantes para a história recente da Cidade de Viamão. Em uma linguagem bem construída, Adonis apresenta um cenário citadino de uma Viamão cheia de tópicos históricos interessantes e pitorescos. É muita informação, pois lá já se vão quase um século do nascimento do autor (veja texto autobiográfico abaixo). O interessante é que Adonis fala de dentro do cenário trabalhado no livro, a Cidade de Viamão. Tendo atuado em diversas atividades profissionais e laborais, atuando na vida pública como parlamentar e também no cargo máximo do executivo, Adonis reúne um universo rico de informações sobre a velha capital dos gaúchos.
O Autor é muito capaz e competente ao escrever “Viamão”. Mostra-se preocupado com o produto final da obra, declarando que refletiu muito sobre a decisão de publicar este livro, pois não é historiador, mas afirma também que não poderia deixar de construir este compêndio por tudo o que viveu aqui e pelo o que tinha de contar sobre esta vivência.
Infelizmente o livro está esgotado a bastante tempo. Existem poucos exemplares disponíveis para consulta. Penso que os herdeiros do legado de Adonis poderiam avaliar a possibilidade de uma republicação comemorativa pela passagem do centenário de nascimento do autor a se comemorar em 2013.
Texto da Contra-Capa do Livro:
ADONIS por Adonis
"Nasci na então Vila de Viamão, hoje progressista cidade, no dia 27/07/1913, na casa onde até hoje reside meu venerando pai, Alcebíades Azeredo dos Santos, sita a Rua Cirurgião Vaz Ferreira.
Após freqüentar o colégio elementar, hoje Grupo Escolar Setembrina, sob a proficiente direção do saudoso educacionista Tolentino Maia, tendo como professora Dona Carmelia Curtis, além de outras mestras, em 1927 fui concluir meu curso primário no Colégio Souza Lobo, em Porto Alegre, o qual tinha como diretora a Professora Diva Branca Pereira de Souza.
Foram minhas mestras neste educandário, as professoras Alcina Tobarda, Rita Dutra Job e Vera Simich. Residia eu, naquela ocasião, numa velha residência a Rua Benjamin Constant, sob os cuidados da conceituada educadora Dona Albertina Lavra Pinto Eder; Concluído o curso primário, retornei a Viamão, onde trabalhei nas oficinas tipográficas do ex “O Viamonense”, hoje “Correio Rural”.
Nessa cidade fui também lecionado em aulas particulares pelos doutores Nelson Barcelos da Veiga e Reverendo Gamaliel Cabral. Em 1929 ingressei no comércio em Porto Alegre tendo trabalhado na firma Furtado & Feijó.
No período de 1930 a dezembro de 1931, residi na Cidade de Gravatai lá exercendo as minhas atividadesno “Correio Rural” que para aquele município havia se transferido, tendo em vista a mudança de meu pai que passaria então a residir naquela localidade. No dia 10 de dezembro de 1931, ingressei nas fileiras da gloriosa Brigada Militar do Estado. Vida bastante acidentada a que tive na milícia estadual, pois que, bem moço ainda já era graduado e me pesavam grandes responsabilidades, tais como comandante de guarda e patrulhamento naqueles dias agitados de 1932 afora.
Devo, nesse relato biográfico tecer os maiores louvores à gloriosa Brigada Militar a quem devo a minha formação de caráter, dignidade e de homem; Em 02 de janeiro fui excluído, a meu pedido, da valorosa força estadual, após servir por mais de quatro anos. No dia 10 de fevereiro de 1936 ingressei no quadro do funcionalismo da Prefeitura do Município de Viamão.
Prestei serviços aquela municipalidade, vinte e cinco anos, ao correr de cujo tempo exerci também atividades políticas e administrativas, as quais citarei em rápidos detalhes; na vida pública, por dois quatriênios, fui vereador, tendo ocupado por três vezes a Presidência da Camara Municipal. Fui também relator de diversas comissões do legislativo viamonense, havendo sido o relator da Lei Orgânica em Vigência no município de Viamão.
Na vida social exerci os seguintes cargos: tesoureiro, durante dez anos, do Tiro de Guerra 346, secretário da Legião Brasileira de Assistência, secretário da extinta Legião do Ar, secretário da Loja Maçônica de Viamão, orador perpétuo da Liga de Defesa Nacional, secretário da comissão Revisadora da Divida Ativa do Município de Viamão, presidente da comissão de assistência social ao presidiário, além de outras entidades sociais, culturais e desportivas.
Coube-me a honra de dirigir o Município de Viamão no ano de 1959, durante 10 meses, como prefeito substituto, no licenciamento do titular, Dr. Carlos Pinto Mennet, e na ausência do vice-prefeito, Dr. Trajano Pinheiro Machado. Isso porque desempenhava eu o cargo de Presidente da Câmara Municipal.
Na vida jornalística, venho a mais de trinta anos, militando sempre em vários postos da direção do periódico “Correio Rural”.
Sou jornalista profissional registrado na 17ª. Inspetoria Regional do Ministério do Trabalho desde janeiro de 1940 e pertenço ao sindicato dos jornalistas Profissionais de Porto Alegre. Tenho exercido também minhas atividades no comércio viamonense, visto que além de haver possuído um armazém por alguns anos, estabeleci-me logo após com o bar restaurante Setembrina sito à rua Cel. Marcos de Andrade, de cujo ramo de negócio sou proprietário e dirijo há mais de 15 anos consecutivos.
São meus filhos os jovens Moacyr e Waldir dos Santos e a senhorita Adair dos Santos, filha essa que constitui em minha atribulada existência, o sonho de um pai que a quer sempre feliz, pois que ela, para mim retrata todas as supremas inspirações de afeto, amor e carinho de meus sublimes ideais.
Eis, em síntese, amigos leitores em rápidas pinceladas, o passado do autor desta modesta obra."
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PEQUENA HISTÓRIA DE VIAMÃO
O Livro “Pequena História de Viamão (Para Estudantes)” é de autoria do Professor Lenoar Mello Almeida. Foi lançado na década de 80 do século passado, através de uma parceria com os empresários do Grupo denominado “7 Irmãos Supermercados” (Romalino Feijó de Fraga, Conceição Feijó de Fraga, José Adão Feijó de Fraga, Iara de Almeida Fraga, Luiz Breno Julio).
Com um texto bastante sintético, porém claro e didaticamente correto, a obra apresenta diversas imagens que ilustram alguns temas abordados. Parece-me que cumpre assim a sua proposta, pois a mesma é dirigida para o público de estudantes. Dentre as imagens destacaria a de um personagem típico da cidade: Tristão José de Fraga, primeiro intendente do município.
Na área das artes, Lenoar chama a nossa atenção para outro personagem importante da história recente de Viamão: José Curtis de Andrade, artista plástico com um trabalho de destaque não só na velha capital, como também além fronteiras viamonenses.
Gostaria de destacar ainda a parte do texto que traz a relação de todos os homens públicos que ocuparam a direção no poder executivo e legislativo local (Veja nominata abaixo):
Intendentes:
Ten.Cel. Tristáo José de Fraga – 1854
Ten.Cel. Idalino Fernandes de Oliveira 1912 à 1915
Ten.Cel. Acrysio Martins Prattes
Antônio Ávila
Antônio Cailar Barreto Vianna – 1925
José dos Santos Abreu
Prefeitos:
Dr. Antônio Lucas de Oliveira – 1931
Dr. José Diogo Brochado da Rocha
Cel. Felício Augusto de Almeida – 1932
Antônio Cailar Barreto Vianna -1936 a 1942
Carlos Velho Monteiro – 1943
Napoleão de Almeida – 1945
Norberto Ignácio de Barcelos – 1947
Luiz Barcellos – 1948
Ten.Cel. Ponçalino Cardoso da Silva – 1951
Frederico Diehl – 1960
Dr. Carlos Pinto Mennet – 1963
Dr. Antonio Chaves Barcellos – 1964
Marcionilo Pacheco de Pacheco - 1966 a 1968
Pedro Antonio Pereira de Godoy - 1977 a 1983
Tapyr Tabajara Canto da Rocha – 1983
PRESIDENTES DA CÂMARA DE VEREADORES DE VIAMÃO
1. José Américo dos Santos Filho
2. Adonis Santos
3. Alcebíades Azeredo dos Santos
4. Fortunato da Silva Lopes
5. Carlos Viegas
6. Inácio Ângulo
7. Milciades Azeredo Santos
8. Antonio Silva Cabral
9. Antonio Chaves Barcellos
10. Sergio Bueno Prates
11. Clodoaldo Prates Veiga
12. Marciolino Pachedo de Pacheco
13. José Antunes Pinto
14. Ial Nei de Souza Nunes
15. Antonio Carlos Nunes Borges
16. João Lino Pereira
17. Carlos Alberto R. Silva
18. Renato João Kerkoff
19. Antonio Becker da Rosa (1983/1989)
Dos Açores a Viamão – 250 anos do povoamento Açoriano no Rio Grande do Sul
O Livro “Dos Açores a Viamão – 250 anos do povoamento Açoriano no Rio Grande do Sul” foi lançado pela Prefeitura Municipal de Viamão (Departamento de Memória Cultural) por ocasião dos atos comemorativos dos 250 anos do povoamento Açoriano no Rio Grande do Sul. Traz na capa a imagem do Farol de Itapuã, uma construção com arquitetura de influência açoriana, segundo afirmam os autores.
Na apresentação, primeiras páginas do livro, lemos:
“Este trabalho tem intuito de mostrar a influência da cultura açoriana inserida na cultura viamonense, uma vez que o município serviu para o assentamento de muitos casais açorianos há 250 anos, os quais se fixaram e construíram uma comunidade luso-brasileira, contribuindo na formação do Rio Grande do Sul e de Viamão, o que fortemente é comprovado pelos diversos aspectos que se referem à arquitetura, culinária, artesanato, as manifestações artísticas, música e dança, a religiosidade, bem como outros sinais da presença açoriana em nossos costumes.
Aparece aqui o perfil de Viamão, enfocando dados geográficos, históricos, turísticos e culturais.
Espera-se que estas informações sirvam como referência cultural da simbiose formadora da comunidade viamonense.”
Atualmente, existem alguns intelectuais na cidade que preferem negar esta parte da historiografia local. O fato é que devemos realizar o movimento de resgate da nossa memória cultural recente e assim procedeu o ente público aqui elencado uma vez que as evidências falam por si. Gostaria de destacar mais uma parte do texto que fala sobre o histórico da colonização açoriana no sul do Brasil:
“No século XVIII a ocupação das terras do Rio Grande já era bastante fraca. Portugal estabelece que deveria promover a urbanização dos pontos fortificados e o povoamento do território de Santa Catarina e o Rio Grande. O elemento escolhido foi o colono açoriano. Decide-se então a transferência de até quatro mil casais açorianos e madeirenses. Homens de 40 anos e suas mulheres de não mais de 30, em grupos de 60 casais. Os primeiros açorianos desembarcaram entre janeiro e fevereiro de / 748, Em Santa Catarina, no ano de /752 chegaram a Rio Grande embarcações menores.
Entretanto, os novos colonos não se 'limitam ao litoral gaúcho, onde fundaram os povoados de Rio Grande de São Pedro, Estreito, Mostardas e Conceição do Arroio (atual Osório). Estabeleceram também, núcleos ao longo da Depressão Central. Desembarcando no Porto dos Casais, a partir de outubro de 1752, começaram a subir pelo rio Jacuí, rumo às Missões, para onde estavam destinados em conseqüência do Tratado de Madri. Mas por motivo do insucesso das armas portuguesas e espanholas contra os índios missioneiros e modificação nos planos governamentais, eles permaneceram às margens do rio, no Porto dos Casais (hoje Porto Alegre), em Capela Grande de Viamão, Santo Amaro, Rio Pardo e Taquari.”
Fonte
http://fotolog.terra.com.br/afeiradolivrodeporto:74