terça-feira, 24 de março de 2015

Marino Balbino dos Santos





Marino Balbino dos Santos (1934-2015)

Tio Marino foi uma importante figura pública do Porto Isabel. Teve destaque como um dos fundadores da Escola de Samba Unidos da Vila Isabel.
Nascido em Porto Alegre, em 22/01/1934, filho de Apolinário e Maria dos Santos.

Entrevista concedida à Revista Viamão

Revista Viamão: Como era sua vida em Porto Alegre?
Marino Balbino dos Santos: Perdi meu pai muito cedo, quando eu tinha 7 anos de idade. Então, tive que ajudar minha mãe no sustento da casa. Aos 8 anos, já trabalhava. Minha mãe lavava roupa para fora e eu fazia as entregas. Também trabalhei como entregador de alfaiate e dos 14 aos 18 anos, numa indústria de rádios, até ir para o exército. Estudei apenas até a 5ª série, na Escola Inácio Montanha. Depois do exército, fui jogador de futebol do time do Banco Agrícola Mercantil.

Revista: Por que veio para Viamão?
Marino: Vim em 66. Estava difícil a vida na capital, então, comprei um terreno na Santa Isabel. Nesta época, eu trabalhava na Prefeitura de Porto Alegre, no setor de limpeza. Mesmo mudando de cidade, continuei trabalhando lá, só que agora na Usina do Gasômetro, como estivador e segurança.

Revista: Quando surgiu o interesse pelo Carnaval?
Marino: Desde os 14 anos, quando um irmão mais velho, que já fazia parte do bloco, me levou para conhecer Grupo Carnavalesco Embrutos. Acompanhei este grupo por quase 15 anos, onde fui até a presidência. Durante o tempo em que estive no grupo, vi passarem de 30 para mais de 50 os integrantes. Quando o Embrutos parou, eu também parei, pois não sai mais em nenhum outro grupo, apenas acompanhava as escolas.

Revista: Como surgiu a Escola de Samba Unidos da Vila Isabel?
Marino: Já existia uma vontade de fazer uma escola na vila, mas nunca saía. Eu só observava, estava a pouco tempo com minha família aqui, e não me metia, não tinha muitas amizades ainda.
Então quando comecei a fazer mais amigos aqui, começamos também a fazer excursões para o terminal de Cidreira. Alugávamos um ônibus, convidávamos o pessoal e íamos para a praia. Isso foi por uns 6 ou 7 anos. A gente juntava o pessoal, levava uns instrumentos e fazia um carnaval! O pessoal foi se entusiasmando e foi daí que surgiu a Escola Unidos da Vila Isabel. Nesta época, eu já levava 4 ônibus para Cidreira, e tinha uma gurizada boa, alguns, como eu, estão até hoje na Escola.
Algumas pessoas têm uma versão diferente de como surgiu a escola, e que outra pessoa teve a idéia de fundar a Vila. Isso porque, quando fundamos e a Escola, em 1979, eu fui vice-presidente. Mas eu comecei e segurei a Escola.

"Temos muito a agradecer e respeitar essa figura que sempre esteve ativo no quadro da escola. Tio Marino representa o elo do passado com o presente e também com o futuro da Vila Isabel. Ele é exemplo de força, raça e ser humano do bem. Vida longa ao Tio Marino!" - Cláudia Gutierres

Fonte


segunda-feira, 23 de março de 2015

Poema Falado - O navio negreiro

Jorges





Jorge(s)
Jaques


A história de Jorge.

Eu vou falar de Jorge. A Fé remove montanhas, diz o ditado popular.
As imagens historiográficas clássicas mostram dois lados bem definidos na formação (e fundação) dos lugares em que vivemos. Uma classe dominante (geralmente europeus) dirigindo um processo de “desbravamento” e uma massa de gente oprimida e escravizada, ou seja, a mão de obra que executa as tarefas (geralmente nativos escravizados, especialmente africanos). A chegada do povo africano na “terra brasilis” marca o início de um fenômeno religioso importante. Os negros não chegam sozinhos. Eles trazem consigo os seus deuses, guias espirituais e seres descorporificados (protetores dos oprimidos - orixás). Falar de Jorge, depois do que vivi hoje no meio do meu povo é uma tarefa auspiciosa. Jorge não é isto ou aquilo. Jorge não está aqui ou ali. Jorge não tem preço. Jorge não tem face. Jorge é simplesmente Jorge (Ogum).
O que resta a um oprimido senão reagir. Foi o que o nosso povo fez: REAGIU (a opressão e a humilhação), CRENDO. Sabiam que não estavam sós e, portanto, buscavam forças “superiores” para viver em um ambiente extremamente hostil e cruel. Jorge é o produto deste processo (mágico). Jorge só pode ser entendido dentro deste contexto histórico.  Estamos vivos, fortes e elevados após séculos de escravidão, de opressão e de infortúnios pelas mãos de Jorge.
Ao fundo ouço, além da sonoridade deliciosa da chuva lambendo o telhado, o canto da nação: ô, ô, ô, o! ô ô ô, o! É a comunidade reunida em torno do “Boteco da Vila”. La, La, laia! La, La, laia! Aqui da redação do blog vejo a quadra da vila, Vila Isabel. Jorge, Vila, Jaques. 1970, 2001, 2013. Jacó.
Hei de ver a Lua brilhar. Iluminar o nosso pavilhão. Sou da vila faz tempo e ninguém vai nos separar. Isso sim é Vila Isabel, canta o poeta da vila. Água da Bica (Bel). Falo e assino. Canto e profetizo. Abril blog. Está tudo começando agora.

Texto Publicado em 28/04/2013
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Margarida Lacerda

Feliz Aniversário para a mãe da minha amiga Dra. Luciana Lacerda.
Na imagem Máscara (irmão de Tililim e Dra. Luciana no LACVET)