segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Amputado

AMPUTADO

A dor do AMPUTADO permanece mesmo quando a ferida está cicatrizada. O AMPUTADO reabilitado ganha nova vida. O estigma faz parte da vida do AMPUTADO reabilitado.
            A dor é aguda e brava logo após a amputação. A sensação de perda é muito presente e, geralmente, imobiliza o indivíduo para realizar qualquer atividade. É como se todas as conquistas e vitórias anteriores se reduzissem a uma imensa perda ou derrota. Nesta fase a reabilitação parece ser impossível de ocorrer. Na medida em que o tempo avança, o AMPUTADO vai aprendendo a viver com a sua limitação. A dor ameniza, mas o sofrimento persiste. Volta e meia, retorna aquele fantasma da amputação e o processo de reabilitação retrocede aos patamares do início. Portanto, a dor do AMPUTADO permanece mesmo quando a ferida está cicatrizada.
            A reabilitação é um processo ao cabo do qual o AMPUTADO ganha nova vida. A “nova vida” não é a vida anterior retomada. A “nova vida” significa a situação de um individuo que aceitou a sua limitação, e não podendo reaver o que perdera, aceita uma nova condição de vida: a vida de reabilitado. Não é possível ver novamente o horizonte com todo o colorido que dantes. Contudo, o reabilitado sente o prazer renovado de buscar a imagem do horizonte para o alimento da alma. Dependendo do nível de discernimento do reabilitado ocorre um fato interessante: Ao voltar a contemplar o horizonte, o AMPUTADO reabilitado não consegue acessar o mesmo visual que dantes apreciara. No entanto, ganha a oportunidade de ver como não via antes (situação difícil de explicar em poucas linhas. Sentimentos, de um modo geral, não possuem explicações tão óbvias quanto podemos supor).
            O AMPUTADO venceu as dificuldades iniciais referentes aos limites e agora está reabilitado. Mas a reabilitação traz consigo uma nova cena a ser vivida: O Estigma. O AMPUTADO reabilitado agora administra os seus déficits sob um olhar depreciativo dos seus semelhantes. Ou seja, além da dor da perda, que tênue persiste, é necessário portar a prótese publicamente e assumir: EU SOU DIFERENTE.


Texto escrito em 2010.

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