AMPUTADO
A dor do AMPUTADO permanece mesmo quando
a ferida está cicatrizada. O AMPUTADO reabilitado ganha nova vida. O estigma
faz parte da vida do AMPUTADO reabilitado.
A dor é aguda e brava logo após a amputação. A sensação de perda é muito
presente e, geralmente, imobiliza o indivíduo para realizar qualquer atividade.
É como se todas as conquistas e vitórias anteriores se reduzissem a uma imensa
perda ou derrota. Nesta fase a reabilitação parece ser impossível de ocorrer.
Na medida em que o tempo avança, o AMPUTADO vai aprendendo a viver com a sua
limitação. A dor ameniza, mas o sofrimento persiste. Volta e meia, retorna
aquele fantasma da amputação e o processo de reabilitação retrocede aos
patamares do início. Portanto, a dor do AMPUTADO permanece mesmo quando a
ferida está cicatrizada.
A reabilitação é um processo ao cabo do qual o AMPUTADO ganha nova vida. A
“nova vida” não é a vida anterior retomada. A “nova vida” significa a situação
de um individuo que aceitou a sua limitação, e não podendo reaver o que
perdera, aceita uma nova condição de vida: a vida de reabilitado. Não é
possível ver novamente o horizonte com todo o colorido que dantes. Contudo, o
reabilitado sente o prazer renovado de buscar a imagem do horizonte para o
alimento da alma. Dependendo do nível de discernimento do reabilitado ocorre um
fato interessante: Ao voltar a contemplar o horizonte, o AMPUTADO reabilitado
não consegue acessar o mesmo visual que dantes apreciara. No entanto, ganha a
oportunidade de ver como não via antes (situação difícil de explicar em poucas
linhas. Sentimentos, de um modo geral, não possuem explicações tão óbvias
quanto podemos supor).
O AMPUTADO venceu as dificuldades iniciais referentes aos limites e agora está
reabilitado. Mas a reabilitação traz consigo uma nova cena a ser vivida: O
Estigma. O AMPUTADO reabilitado agora administra os seus déficits sob um olhar
depreciativo dos seus semelhantes. Ou seja, além da dor da perda, que tênue
persiste, é necessário portar a prótese publicamente e assumir: EU SOU
DIFERENTE.
Texto escrito em 2010.
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