domingo, 29 de setembro de 2013

Dias e Dias



Dias e Dias


Tempo, tempo, tempo, diz a canção. O que é possível fazer, quando se dispõe de cento e quarenta mil, cento e sessenta horas?

Eu sou cada vez mais eu mesmo. E não é individualismo puro. Por favor, necessito que você entenda este processo, pois é puro e autentico auto-descobrimento. Eu estou muito feliz com o percurso percorrido e com as novas possibilidades que surgem no horizonte. Eu já disse e repito: tudo está começando agora. Sei que a maioria dos meus oponentes dizem: lá vem ele com mais uma frase genérica, solta e sem motivo aparente. Será que é isso mesmo? Eu estou escrevendo. Me dedico a obra com o título provisório de “O Grande Desafio” e, neste sentido, declarei para uma amiga que se dedica para as letras: Eu escrevo para a posteridade. Não ofereço as minhas obras para o mercado. Penso que ela entendeu a assertiva.
Reproduzi no blog uma notícia alvissareira do condado: Encerrando o calendário de ações comemorativas aos 272 anos de Viamão, o prefeito Valdir Bonatto entregou à secretária da saúde Sandra Sperotto a chave da Unidade de Atenção aos Animais. Vejam que interessante o que ocorre aqui. O primeiro projeto apresentado no legislativo neste ano foi de autoria do Parlamentar Xandão Gomes e versava sobre a matéria “Proteção aos Animais”. Logo em seguida ocorreu no legislativo uma grande e bela sessão plenária especial, envolvendo todos os segmentos da sociedade, com o tema “Proteção aos Animais”. E agora esta notícia que muito me anima: unidade móvel de atenção aos inocentes. Diante do contexto exposto, eu pergunto: o que é possível fazer, quando você dispõe de cinco mil e oitocentos e quarenta dias de trabalho? Ou dito de outra forma, já que a questão é quantitativa, como afirmei no início deste: O que é possível fazer, quando se dispõe de cento e quarenta mil, cento e sessenta horas (de trabalho)? Voce quer mais objetividade? Lá vai: esta foi a quantidade de tempo que os imperadores (que antecederam ao atual) tiveram disponível para tomar iniciativa análoga e não o fizeram. Perderam uma oportunidade histórica de inovar na defesa dos inocentes. Lamento.

Haverá hoje a noite mais uma reunião dos acadêmicos (do samba). A comunidade de Vila Isabel vai estar reunida na quadra mais uma vez. Já foi definido o tema enredo. Já temos o samba enredo eleito pelos comuns e agora é só ativar as energias supremas na realização de mais um processo carnavalesco, onde os artistas da Escola de Samba Unidos De Vila Isabel, vão mostrar todo o seu brilho, a sua ginga e os seus inúmeros dotes artísticos. Hei de ver a Lua brilhar, iluminar o nosso pavilhão ... São Paulo dá café, Minas dá leite ... Com que roupa, com que roupa, eu vou ...

Paz aos meus. Que a luz da boa vontade esteja sobre as vossas cabeças. Que o Amor da Mãe e a tutela do pai não nos desampare. Para o todo sempre. Que assim seja!

Namaste.








Atenção aos Animais

Atenção aos Animais


“Encerrando o calendário de ações comemorativas aos 272 anos de Viamão, o prefeito Valdir Bonatto entregou à secretária da saúde Sandra Sperotto a chave da Unidade de Atenção aos Animais. Na solenidade, no final da tarde de quinta-feira, 19, o coordenador das políticas de atenção aos animais, Vicente Bogo destacou o voluntariado neste serviço, “considero o voluntariado talvez seja o elemento mais importante para que se possa resolver mais rapidamente os problemas mais graves e com o tempo resolver integralmente estas questões”, relatou.
Já o prefeito Valdir Bonatto ressaltou o compromisso com as questões ambientais do município, “cuidar dos animais é cuidar da saúde pública e do meio ambiente, e para isso estamos fazendo a entrega desta unidade, que na próxima semana já deverá estar em funcionamento” completou.
A lei de atenção aos animais está em análise na Câmara de Vereadores, e até a próxima semana uma comissão será nomeada pelo executivo municipal para fazer a gestão do assunto”. 

Fonte:
Site da Prefeitura Municipal de Viamão

Link abaixo:


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mestre Borel


Mestre Borel Divulgamos aqui algumas sequências do Documentário etnográfico Mestre Borel - A ancestralidade negra em Porto Alegre, que narra as memórias de um dos mais reconhecidos tamboreiros da religião de matriz africana em Porto Alegre. A equipe de produção do documentário contou com pesquisadores que atuam no projeto Habitantes do Arroio, uma parceria que gerou uma troca produtiva de imagens. Com a narrativa de Borel, muitas imagens dos territórios do Areal da Baronesa, da Ilhota e da antiga rua Cabo Rocha ganharam vida, revelando a relação íntima do antigo curso do Arroio Dilúvio com a memória negra na cidade. veja mais em: http://habitantesdoarroio.blogspot.co... Mestre Borel - A ancestralidade negra em Porto Alegre 2010 - 55 minutos - Porto Alegre Produção: Ocuspocus Imagens Direção: Anelise Gutterres e Baba Dyba de Iemonjá Roteiro: Ana Luiza Carvalho da Rocha Direção de Fotografia: Rafael Devos Etnografia Sonora: Viviane Vedana Edição: Rafael Devos, Viviane Vedana, Anelise Gutterres Produção Executiva: Anelise Gutterres Assistência de Produção: Inara Moraes Assista https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=pjNI-FFXVaE#t=46

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Tradições cruéis

“Tradições cruéis









Crédito:
 ARTE JÕAO LUIS XAVIER


Adiós! Fim de uma tradição. As touradas estão proibidas em Barcelona e em toda a Catalunha. Vale uma revelação estonteante: as tradições têm começo, meio e fim. Não são eternas. Nem intocáveis. Nascem, crescem e morrem. Dependem das sensibilidades de cada época. Houve um tempo em que maltratar animais era considerado normal. Os bichos eram instrumentos e brinquedos dos homens. Era comum que marmanjos se divertissem "judiando" de animais. A "farra do boi", praticada em Florianópolis, sempre foi uma dessas maldades protegidas pela tradição trazida de além-mar. A doma violenta, no Rio Grande do Sul, foi durante muito tempo a única maneira de adestrar cavalos, mas era também um modo de liberar certa perversidade, inconsciente ou não, típica do bicho homem, um ser que encontra prazer na agressividade e na violência lúdica.
Ernest Hemingway, Prêmio Nobel da Literatura, que gostava de touradas e de fanfarronices, escreveu que "matar limpamente, de modo a produzir prazer estético e orgulho, sempre foi um dos grandes prazeres de parte da raça humana". Hemingway foi um homem do seu tempo. Em "O Sol Também se Levanta", ele pintou com maestria esse gosto dos seus contemporâneos por sangue animal: "Montoya desculpava tudo num toureiro que tivesse afición. Desculpava os ataques de nervos, o pânico, os erros inexplicáveis, toda a sorte de lapsos. Em suma, àquele que possuía afición, Montoya perdoava tudo. Perdoou-me imediatamente por todos os meus amigos. Sem dizer coisa alguma, considerava-os simplesmente como algo um pouco vergonhoso entre nós, como o ventre rasgado dos cavalos, nas touradas". A guerra também não era uma vergonha. Filmes recentes mostram a "fissura" de soldados americanos pelas situações bélicas de extremo perigo.
No Brasil, atualmente, os rodeios, tão ao gosto dos "caubóis" do interior de São Paulo, representam uma moderna tradição de crueldade. Hemingway racionalizava o seu gosto alegando que o touro tinha a sua chance e que o toureiro arriscava a sua vida. Estatisticamente falando, os riscos enfrentados pelo touro sempre foram maiores. Os animais já foram escravos dos homens. É verdade que agora alguns homens querem se tornar escravos dos animais. Faz parte certamente da chamada dialética senhor e escravo. Os seres humanos submetem ou são submetidos. Uma síntese atual seria a submissão voluntária. É outro papo. As tradições cruéis estão com os dias contados. As perseguições a touros e bois pelas ruas das cidades podem ser rotuladas de bullying contra quadrúpedes condenados.
Aqueles que faturam com touradas, apoiados em argumentos antropológicos relativos ao respeito às diferenças culturais, tentarão reverter a proibição aprovada na Catalunha. O argumento mais forte, contudo, é de natureza econômica e "social": as touradas criam empregos, movimentam a economia, alimentam famílias, garantem o sustento de crianças e melhoram as receitas públicas. Qual o direito prioritário: o dos animais, o da tradição cultural ou o da produção de riqueza? Qualquer um que não seja cínico sabe a resposta. Os aficionados poderão matar as saudades lendo Hemingway”.

Autor:
Juremir Machado da Silva. 

Fonte do texto

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Jacques Jacomini


INVENTÁRIO PARTICIPATIVO DE VIAMÃO

 

O presente trabalho é o resultado das pesquisas (...)

 

Participaram deste trabalho na condição de funcionários da SMCET, estagiários e colaboradores as seguintes pessoas: a quem muito agradecemos:

Alexandre Lobo,

Alex Sandro Fraga,

Elmo Fraga,

Flávio José da Silva,

Gerson Wasen Fraga,

Gisleine Lima da Silva,

Hugo Oneide Moraes Costa,

Jacques Jacomini,

Janaína gomes da Veiga Pessoa,

Josué Gulherme Kolning,

Karina Gomes Vogel,

Luciana Pires Vieira,

Luciano Mendes,

Nádia Maria Rocha Marças,

Natália Pietra Méndez,

Tatiana Greco Xavier,

Tiago Bernardon de Oliveira,

Vanda S. M. Troscianko e

Vera Lúcia Mikoski.

 

 

Copyright do autor

Direitos desta edição: Secretaria Municipal da Cultura, Esporte e Turismo/ Prefeitura Municipal de Viamão.

 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Vita + entrelinhas

VITA



A Vida é o maior valor (bem) a ser preservado (vivido). Viva a Vida (em todas as suas formas e manifestações).


A noção de valor é construída socialmente segundo os preceitos culturais das sociedades em questão. A experiência social moderna mostra que o valor financeiro é o que tem maior destaque na sociedade contemporânea capitalista. “Tempo é dinheiro”,afirmam os indivíduos que transformam as suas vidas em uma verdadeira“maratona” onde a vitória é representada pelos bens que o capital (econômico-financeiro) pode comprar. Neste caso, imóveis de luxo, automóveis esportivos, jóias e outros produtos afins são os símbolos das pessoas “bem sucedidas” (bens distintivos expostos como medalhas).


Eu entendo que a vida (em todas as suas formas e manifestações) representa o maior valor a ser perseguido, fomentado e preservado. A preservação da vida é a meta 01 (Zero Um) de qualquer pessoa enfileirada conosco (neste pressuposto que defendo). Infelizmente somos minoria entra uma massa de semelhantes que não medem esforços para reproduzir o Status Quoe fomentar a roda consumista (capitalista). Estas últimas desconhecem (ou negam) esta verdade fundamental que venho aqui propagar e, na maioria das vezes, são vítimas do próprio sistema que ajudam a alimentar.


A Vida é tão sublime, rica e maravilhosa que está presente até mesmo onde os transeuntes comuns não observam. Há vida na semente que levada ao solo floresce e dá frutos. Há vida no vento (brisa fresca) que anima e acalma os desalentos da alma. Há vida na água que sacia a sede e rega a planta. Há vida na palavra da boa vontade que enobrece o bem querer. Há vida no seio da mãe que alimenta e nutri o filho querido. Acredito, portanto que é necessário ter muita sensibilidade e sintonia (fina) com o criador e a mãe (natureza) para estabelecer esta aliança eterna com todas as manifestações de vida (humana e não humana). Preservar a vida é fortalecer o amor e a bondade que deve inundar os nossos corações quotidianamente. Viva e deixe viver. Não cometa nenhum tipo de atentado contra a vida. Viva, viva cada vez mais. Viva plenamente. Viva a Vida.


Escrito em Outubro de 2010 por JacquesJa. Publicado em









ENTRELINHAS

Eu estou muito (muito) feliz. Foi um dia maravilhoso.
O início de tudo foi logo cedo. Entre as cinco e seis horas da manhã fui abençoado com mais um avistamento. Eu sei que este é um tema polemico e que muitos vão simplesmente me criticar por este relato. Mas eu peço que investiguem melhor sobre isto, pois serão surpreendidos (certamente).
E o decorrer do dia foi tão mágico quanto o início. Bênçãos e mais bênçãos. Eu quero destacar uma sucessão de fatos que mostram como eles operam. Primeiro me mostram um livro especial que me levou até a presença de uma amiga. Depois esta amiga me auxiliou no descobrimento de algo que eu simplesmente não imaginava que viria até as minhas mãos no dia de hoje. É!  É uma obra. Mas não é apenas uma obra, pois representa um verdadeiro tesouro da literatura contemporânea. Portanto, é a obra. E agora eu a tenho em minhas mãos, tão firme como os meus próprios dedos.
Eu só tenho a agradecer a minha mãe (Conhecida por muitos como Isis) que fez a conexão e me colocou como um elo desta corrente maravilhosa. Detalhe: as luzes maravilhosas que se acendem mais do que sinais, são indicativos de uma responsabilidade super aumentada para nós (bem como para os nossos).
Gostaria de concluir esta com um recado para os que acompanham a minha saga nestes mares pós-diluvianos: se você acredita em algo e esta crença vem do fundo do teu coração, inundando a tua alma de certezas, viva! Viva esta crença na sua plenitude, mesmo que cobrem um preço considerável para fazê-lo. Não titubeia. Não vacile. Siga acreditando (e trabalhando) na defesa desta verdade, pois quem te sustenta não te abandonarás (aqui ou acolá).
Não seja escravo da mídia. Não carregue a cruz que não é tua. Compaixão é a palavra. Amor é o sentimento e Luz é o alvo que te reconduz a casa materna (paterna). Somos todos UM.
Namaste
18/09/2013




leon foucault


patriarcado rural


Capítulo XI

Ascensão do Bacharel e do Mulato*



texto em construção



* Capitulo XI da obra

FREIRE, Gilberto, 1900

Sobrados e Mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano.

309.181

F894sc

V. 2













Freire, Gilberto, 1900
Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano / Gilberto Freyre: ilustrações de Lula Cardoso Ayres, M. Bandeira, Carlos Leão e do autor. 7. ed. - Rio de Janeiro: José Olympio; 1985
309.181
F894sc
v.2

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Prêmio Pierre Verger


mucambaria



Capítulo XI
Ascensão do Bacharel e do Mulato*
páginas 573 a 631

            É impossível defrontar-se alguém com o Brasil de Dom Pedro I, de Dom Pedro II, da Princesa Isabel, da campanha da Abolição, da propaganda da República por doutores de pincenez, dos namoros de varanda de primeiro andar para a esquina da rua, com a moça fazendo sinais de leque, de flor ou de lenço para o rapaz de cartola e de sobrecasaca, sem atentar nestas duas grandes forças, novas e triunfantes, as vezes reunidas numa só: o bacharel e o mulato.
            Desde os últimos tempos coloniais que o bacharel e o mulato vinham se constituindo em elementos de diferenciação, dentro de uma sociedade rural e patriarcal que procurava integrar-se pelo equilíbrio, e mais do que isso, pelo o que os sociólogos modernos chamam acomodação, entre os dois grandes antagonismos: o senhor e o escravo. A casa grande, completada pela senzala, representou entre nós, verdadeira maravilha de acomodação que o antagonismo entre o sobrado e o mucambo veio quebrar ou perturbar.
            A urbanização do império, a consequente diminuição de tanta casa-grande gorda, em sobrado magro, mais tarde até em chalé esguio; a fragmentação de tanta senzala em mucambaria, não já de negro fugido, no meio do mato grosso ou no alto do morro agreste mas de negro pardo livre, dento da cidade – fenômeno do 1830 brasileiro que se acentuou com a campanha da Abolição – tornou quase impossível o equilíbrio antigo, da época de ascendência quase absoluta dos senhores de escravos sobre todos os outros elementos da sociedade; sobre os próprios vice-reis e sobre os próprios bispos. Maximiliano ainda alcançou essa época quase feudal de organização social do Brasil; Nota 1 e o Conde de Suzannet ainda sentiu de perto, no Império, essa feudalidade, Nota 2, senão de substância, de forma.
            A valorização social começara a fazer-se em volta de outros elementos: em torno da Europa, mas uma Europa burguesa, donde nos foram chegando novos estilos de vida, contrários aos rurais e mesmo aos patriarcais: o chá, o governo de gabinete, a cerveja inglesa, a botina Clark, o biscoito de lata. Também roupa de homem menos colorida e mais cinzenta; o maior gosto pelo teatro, que foi substituindo a igreja; pela carruagem de quatro rodas que foi substituindo o cavalo ou o  palanquim; pela e pelo chapéu-de-sol que foram substituindo a espada de capitão ou de sargento-mor dos antigos senhores rurais. E todos esses novos valores foram tornando-se as insígnias de mando de uma nova aristocracia: a dos sobrados. De uma nova nobreza: a dos doutores e bacharéis talvez mais que a dos negociantes ou industriais. De uma nova casta: a de senhores de escravos e mesmo de terras, excessivamente sofisticados para tolerarem a vida rural na sua pureza rude.
            Eram tendências encarnada principalmente pelo bacharel, filho legítimo ou não do senhor de engenho ou do fazendeiro, que voltava com novas idéias da Europa - de Coimbra, de Montpellier, de Paris, da Inglaterra, da Alemanha - onde fora estudar por influência ou lembrança de algum tio-padre mais liberal ou de algum parente maçom mais cosmopolita.
            As vezes eram rapazes da burguesia mais nova das cidades que se bacharelavam na Europa. Filhos ou netos de "mascates". Valorizados pela educação europeia, voltavam socialmente iguais aos filhos das mais velhas e poderosas famílias de senhores de terras. Do mesmo modo que iguais a estes, muitas vezes seus superiores pela melhor assimilação de valores europeus e pelo encanto particular, aos olhos do outro sexo, que o hibrído, quando eugênico, parece possuir como nenhum indivíduo de raça pura, voltavam os mestiços ou os mulatos claros. Alguns deles filhos ilegítimos de grandes senhores brancos; e com a mão pequena, o pé bonito, as vezes os lábios ou o nariz, dos pais fidalgos.
            A ascenção dos bacharéis brancos se fez rapidamente no meio político, em particular, como no social, em geral. O começo do reinado da Pedro II é o que marca, entre outras alterações na fisionomia brasileira: o começo do "romantismo jurídico" no Brasil, até então governado mais pelo bom senso dos velhos que pelo senso jurídico dos moços. Com Pedro I, tipo de filho de senhor de engenho destabocado, quebrara-se já quase por completo, para o brasileiro, a tradição ou a mística da idade respeitável. Mística ou tradição já comprometida, como vimos, por alguns capitães-generais de vinte e tantos anos, para cá enviados pela Metrópole, na era colonial, quase como um acinte ou uma pirraça aos velhos poderosos da terra. Mas foi com Pedro II que a nova mística - a do bacharel moço - como que se sistematizou, destruindo quase de todo a antiga: a do capitão-mor velho.
            Os bacharéis e doutores que iam chegando de Coimbra, de Paris, da Alemanha, de Montpellier, de Edimburgo, mais tarde  os que foram saindo de Olinda, de São Paulo, da Bahia, do Rio de Janeiro, a maior parte deles formados em Direito e Medicina, alguns em Filosofia ou Matemática e todos uns sofisticados, trazendo com o verdor brilhante dos vinte anos, as últimas ideias inglesas e as ultimas modas francesas, vieram a acentuar, nos pais patriarcal, por si só uma mística, como a sua inferioridade de primeiros anos de mando, um meninote meio pedante presidindo com ceto ar de superioridade europeia, gabinetes de velhos acaboclados e até amulatados, as vezes matutos profundamente sensatos, mas sem nenhuma cultura francesa, apenas a latina, aprendida a palmatória ou vara de marmelo, devia atrair, como atraiu, nos novos bacharéis e doutores, não só a solidariedade da juventude, a que já nos referimos, mas a solidariedade da cultura  européia. Porque ninguém foi mais nem mais doutor neste país que Dom Pedro II. Nem menos indígena e mais europeu. Seu reinado foi o reinado dos Bacharéis.
            Em suas memórias recorda a página 91 Dom Romualdo de Seixas que “distinto Deputado, hoje Senador do Império” propunha que se mandasse para o Pará, com o fim de melhor ajustar ao sistema imperial aquela província indianóide do extremo Norte, “carne, farinha e Bacharéis”. E comentava Dom Romualdo: “Pareceu com efeito irrisória a medida ; mas refletindo-se um pouco  vê-se que os dois primeiros socorros eram os mais próprios para  contentar os povos oprimidos de fome e miséria e o terceiro não menos valioso pela mágica virtude que tem uma carta de Bacharel que transforma os que tem fortuna de alcança-la em homens enciclopédicos e aptos para tudo”.
De Dom Pedro II não será talvez exagero dizer-se que sua confiança estava mais nos bacharéis que administrassem juridicamente as províncias e distribuíssem corretamente a justiça, do que em socorros de carne e farinha aos “povos oprimidos”. Socorros precários e efêmeros.



 



Transcrição Literal do texto original obtido no
* Capitulo XI da obra
FREIRE, Gilberto, 1900
Sobrados e Mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano.
309.181
F894sc
V. 2












Freire, Gilberto, 1900
Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano / Gilberto Freyre: ilustrações de Lula Cardoso Ayres, M. Bandeira, Carlos Leão e do autor. 7. ed. - Rio de Janeiro: José Olympio; 1985
309.181
F894sc
v.2